sábado, 27 de dezembro de 2014

CARTA AO DIRECTOR DA CADEIA DE ÉVORA



Il. Sr.

Foram as primeiras páginas de toda a imprensa e as aberturas de jornais em rádios e tvs. avassaladas com a vergonhosa notícia de que V. Sa. não autorizou o recebimento de uma encomenda, contendo um livro, enviada pelo Dr. António Arnaut e destinada ao detido 44 a quem os serviços ditos de justiça chamam José Pinto de Sousa, embora o mundo lhe chame José SÓCRATES. Acredito que o director do estabelecimento não tenha grande simpatia pelo detido em causa, mas mesmo sem essa simpatia, que ele próprio dispensará, ao que se ouviu do seu advogado, mas tem o direito a ter o tratamento de cidadão português, mau grado o vilipêndio a que tem sido sujeito pelos serviços da justiça e prisionais.
Em vários supores veio plasmado que a atitude assumida pelo estabelecimento - naturalmente pelo seu director - já não era aceitável no remoto tempo da ditadura que, pensava eu, caiu em 1974. Foi cometida uma indizível injúria ao remetente (identificado no exterior do volume), foi extorquido um direito ao destinatário que foi detido da forma mais indigna que é possível imaginar-se, indignidade ao nível da dos ordenantes, e as autoridades ficam indiferentes porque cientes da impunidade, exactamente como nos tempos mais negros do fascismo português, nos anos de 50/60.
Nada reporá a situação, mas, não podendo Sócrates tomar posição, porque até essa liberdade lhe foi extorquida, o sagrado direito à liberdade de expressão, o Dr. Arnaut, por certo, irá socorrer-se dos palcos que ainda há por aí com liberdade, para forçar ao mínimo que será o pedido de desculpas públicas.
Já escrevi alhures que "os humilhados serão exaltados".

José Marques Pinto da Silva
Rua do Lago, 5
4505-688 Caldas de S. Jorge
B.I. 1894835


segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

COINCIDÊNCIAS? OU SÓ TALVEZ?



Em 2003, foi por Março/Abril, ocorreu e tornou-se pública, e fortemente publicitada, a prisão de um alto dirigente do PS, que tinha sido ministro da República e, ao tempo, era considerado o número dois do seu partido e, na mesma altura, um dito super juiz, muito atirado para a cowboiada motorizada e presunçoso de ser fotogénico, foi ao parlamento, para, na prática, deter o supostamente indiciado, tendo tido o cuidado de arrastar atrás de si as câmaras de uma TV (não me acusaram de ter sido eu quem avisou os repórteres). Era, por esse tempo, esse político indiciado de crime de pedofilia e foi misturado no que teve de muita palhaçada, aldrabice, intriga, falsidades, processo Casa Pia. Foi apresentado ao JIC e depois de longo interrogatório foi-lhe decretada a prisão preventiva.
Estava, então, no poder o PSD e o governo tinha entrado na rampa descendente, ao contrário do PS que aparecia aureolado de sondagens bem favoráveis. Estava-se a cerca de um ano de eleições para o Parlamento Europeu e a situação mostrava-se feia para o poder estabelecido, ao contrário do PS que aparecia pujante e premiado com boas sondagens. Para o poder, avolumavam-se as nuvens frias do descalabro, enquanto que o sol aquecia a eira eleitoral do PS, abrindo perspectivas de retumbante vitória.
Já com campanha mais do que insinuada em todas as intervenções públicas, o que se pensava e dizia era que era preciso quebrar a espinha do PS. E, acrescente-se, chegou a parecer que sim. A Paulo Pedroso, o dirigente atingido, foi decretada prisão preventiva e a direcção do PS reagiu mal inicialmente, mas soube depois gerir bem este gravame, desenvolveu a sua política de oposição ao governo e foi crescendo na preferência eleitoral, sem nunca deixar de exteriorizar a solidariedade ao dirigente detido e aguardando serenamente a sua libertação. Nas eleições o PS atingiu um resultado absolutamente esmagador, a tal ponto que, pouco tempo depois o primeiro-ministro da época escapuliu-se para Bruxelas a aproveitar uma frincha de oportunidade. Para o acusado e depois ilibado, ficaram as sequelas de uma condenação mediática, loucamente mediática.
Este ano (2014), uma figura carismática do PS, vindo do estrangeiro (poderia não ter vindo, se tivesse medo de enfrentar a justiça – mesmo a fraca e influenciável justiça portuguesa – foi detido à saída do avião, curiosamente e contra todo o costume, tendo à sua espera inspectores das finanças (desde quando é que gente do fisco pode deter pessoas?) e, com eles, repórteres e câmaras de duas TVs. Juro que não fui eu quem alertou  as TVs para a cacha informativa.
Dizem os entendidos, que não o candidato a Garzon nacional, que quem veio de motu próprio, poderia ter sido notificado para se apresentar onde eles quisessem, à hora que eles quisessem e para os fins que quisessem. O primeiro objectivo era humilhar a pessoa em causa  e dar dimensão ao que chamaram de indícios para que os do poder (e outros), através dos seus paus mandados, denegrissem a figura do Engº. José Sócrates.
É que estamos a um ano de eleições e eles estão claramente na rampa descendente e está o PS guindado para as orlas da maioria absoluta. E escolheu-se o dia da eleição de António Costa como Secretário-Geral e estava-se a uma semana do Congresso que validaria os órgãos directivos. Quereriam os ingénuos condicionar a escolha da equipa de António Costa? Sonhariam eles poder arrumar para os escanos os altos quadros do partido e que foram mais próximos de Sócrates e que o acompanharam no governo? Saiu-lhes o tiro para trás, porque António Costa não anula o passado, orgulha-se mesmo dele e não apaga as figuras altas da fotografia, ao bom jeito do estalinismo soviético e do CDS português. O PS – que é acusado até de se ter voltado para a extrema esquerda – saberá ser sempre solidário com o seu ex-lider e terá bem mais pujança para fazer oposição a este (des)governo.
Atente-se agora à similitude das situações – a de agora e a de há 11 anos – e não se diga que agora se não verificou a remake do filme passado e barbaramente apresentado em 2003, tendo só mudado o “vilão” e bom da fita. O que será normal é que o end venha a ser igual ao de 2003 e que seja aplicada ao “bom” de agora a pena sofrida pelo “bom” de 2003. O apagamento total e ida para o cesto das banalidades inúteis. Sabe, por acaso, o público o que é feito de um tal Rui Teixeira, o vaidosão que foi prender Paulo Pedroso com a televisão a fazer furor informativo? Como o cesto é grandalhão, lá caberá de certeza um tal Alexandre, o prepotente.
Digam que não há influências políticas e que a justiça em Portugal é isenta que eu não acredito. O dito de que a política é política e a justiça é justiça é uma falácia. No meu entender. E os casos demonstram-no.

José Pinto da Silva



terça-feira, 16 de dezembro de 2014

CARTA A JOSÉ SÓCRATES

José Marques Pinto da Silva
Rua do Lago, 5
4505-688 Caldas de S. Jorge

Caldas de S. Jorge, 16 de Dezembro de 2014

Caríssimo Camarada,

Não me conhece (e como poderia?). Sou o militante 2917 do PS, fundador de uma pequena secção de uma pequena freguesia do (quase) norte – Caldas de S. Jorge, no distrito de Aveiro, secção que celebrará 40 anos de vida ininterrupta em 29 de Abril de 2015 (começou como núcleo ainda em 74, tendo a reunião constitutiva tido lugar na minha garagem).
Sou levado a dizer que, picado pelo sentimento de solidariedade, sou agora, se tal é possível, mais admirador do camarada do que fui enquanto foi governante, sobretudo na chefia do governo. E a secção está com este mesmo sentimento, tendo sido emitido um documento de apoio e plasmado num blogue da secção. Algumas outras exteriorizações deste meu sentimento solidário e de admiração cheguei a passá-las ao camarada André Figueiredo, via mensagens privadas nas redes sociais.
Sou um olhador atento dos factos que vão acontecendo no país e, por maioria de razão, acompanho a evolução dos acontecimentos que levaram à detenção do camarada e tenho a minha forma de ver o caso, não engolindo o estafado aforismo de que justiça e a política se não misturam (ou se não devem misturar). O facto é que estão mais do que misturadas e, ao que entendo, o camarada está a ser vítima de um escuso processo político/judicial de contornos que se haverão de definir e denunciar.
Claro que acredito na inocência do camarada e tenho para mim que se está a fazer remake de um filme que vi (vimos) em 2003 e em que só mudam alguns dos protagonistas e muda o nó da trama (antes mais moral e agora só material), mantendo-se, embora, toda a encenação.
Antes e agora, para desempenhar o vilão, elegeram uma figura de topo do PS, o de antes no activo e o de agora fora de todas as lides partidárias. Antes e agora, para desempenhar o bom da fita foi eleito um juiz vaidoso e prepotente que, num e noutro caso, quis montar espectáculo mediático que levasse os (supostamente) indiciados e detidos à suprema humilhação e para tentar levar a opinião pública a condenar de imediato.
Esqueceram os almofarizes da vaidade e da prepotência o ensinamento que diz que os humilhados serão exaltados. Os humilhadores, por contraponto, serão esmagados. Onde anda o tal juiz de 2003? Cometeu a maior maldade que imaginar-se pode, fez cócegas ao seu maléfico ego e acabou na penumbra das inutilidades.
Têm dito os que tiveram a oportunidade de o visitar que o encontraram animado e forte. Esse estado de alma confirma-nos a certeza de que lutará com denodo pela prova da sua inocência e que mostrará a lama em que chafurda muita da magistratura portuguesa.
Reitero, camarada, o meu apoio e, dada a quadra que se atravessa, desejo que passe, o melhor possível, as FESTAS. E relembro o ensinamento: Os humilhados serão exaltados.

Nota: Se até ao 29 de Abril o processo vier a estar resolvido, o que francamente espero, fica o camarada convidado a vir juntar-se a nós para a comemoração dos 40 anos da nossa Secção.